In§tante§ ð'um £ouco: janeiro 2009
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Estendo a mão e não me encontro
Aceito-me no passado
Não me reconheço no futuro.
[Erro: imponho-me!]

Caminho de pés juntos, atados
Guio-me cegamente na queda
Marco pontos dispersos de mim.
[Erro: arrasto-me!]

Resguardo-me da imperfeição dos impulsos
Estou preso, não encontro nada
Abalroo limites e fronteiras.
[Erro: atrofio-me!]

Monólogo gladiador que me desune
Provoca-me, remete-me à tentação
De me negar expectante.
[Erro: creio-me!]

Entre o eu e a outra margem de mim
Ressoa o abismo, um grito a mendigar eco
Lamento hesitante de resistência!


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Reconstruo-me ileso
Perdido num cenário incerto
Desenlaçado de amarras e imagens
Inconsciência exígua onde vagueio.
Oiço-me…
Sou declamado na voz de uma sereia.
Encanto-me…
(En)canta-me em gotas de desejo
Sangue sôfrego ao fundo de mim
Tentação amordaçada na surdez dos sentidos
Aromas ciciantes em mares de rosas vermelhas
Degredo obsessivo da minha perdição.
Encurta-se a fronteira, alarga-se o tempo, agiganta-se o espaço
Erguem-se lábios de amantes na melodia das vozes caladas.

O desejo é centelha que penetra
Lambuza, escorre, crepita sonhos…
Mistura-se com o orgasmo do corpo.
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No negro da noite
Sombras...
Vida, utopia urbana
Sinfonia incolor
Rasto de dor
Silêncio em corpos de mulher
Culto de amor profundo
Absurdos...
Arpas de aço
Golpeando em furia.

Quanta angustia latente
Sobre a alma já de mim cansada...
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Assassino-me nesta dor
Convalescente de outra dor
Fruto de outra dor mais doída.

É conspiração.

Aparente embuste
Esta amnésia impertinente
Esta inconsciência de fuga.

É confusão.

Permanente produto inacabado
Matéria prima por consumir
Vácuo de sangue num corpo fechado.

É loucura.

Hemorragia eloquente
Motim de todas as veias
Oceano de todas as lágrimas.

É liberdade incoerente.

Prisão dentro de mim...
... para sempre!
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A tua boca
É fogo que queima
Que provoca loucura
E incendeia o desejo.

Eis os lábios que eu não quero...
Perdidos,
Longe dos meus.
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